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Oranta

A veneração da Mãe de Deus na Ucrânia começou com o primeiro sermão do Apóstolo Santo André. Desde sempre os ucranianos acreditaram que Nossa Senhora tomou a sua terra sob a sua custódia. Muitas igrejas foram construídas em sua homenagem. Entre elas a primeira igreja em Kiev - Igreja do Dízimo (986-996). O monumento de arquitectura mais famoso da época de Principado de Rus é a mundialmente famosa Catedral de Santa Sofia.
Oranta – Mãe de Deus, padroeira do povo, imagem de oração. Nossa Senhora é retratada no plano longitudinal com mãos abertas e elevadas ao nível de rosto. Esta forma de imagem de Maria Oranta foi criada ainda na época do cristianismo primitivo, primeiro em Roma e Bizâncio, e mais tarde em Rus de Kiev. A Oranta representa-se com as mãos levantadas – um gesto de adoração. Este é um gesto antigo que se refere a Deus e significa petição, solicitação. O significado deste gesto particular da Oranta pode ser explicado referindo-se à Bíblia. Durante a batalha dos judeus contra os amalecitas, Moisés orou pelo seu povo, levantando as mãos para o céu. Enquanto ele manteve as mãos nessa posição, os judeus ganhavam. Quando as mãos baixavam, os inimigos começavam a ganhar.

A imagem belíssima em mosaico da Mãe de Deus Oranta, do séc. XI pode ser vista hoje na Catedral de Santa Sofia de Kiev. Ela está retratada na abside sobre o altar, no mosaico, está sobre a pedra de ouro quadrada com as mãos levantadas. A altura da Teotocos-Oranta de Santa Sofia atinge 5,45 m. Esta é a maior figura em toda a arte antiga da Rus. Nossa Senhora está vestida uma túnica azul sobre a qual tem um manto de púrpura – o mafório. Os raios de ouro que penetram o vestuário e as roupas de tons escuros, cheias de reflexos de ouro, tornam figura de Maria majestosa.
No grande arco, o rei Yaroslav o Sábio, mandou colocar com mosaicos negros a inscrição em grego, que se traduz como “O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o centro do teu reino é um centro de equidade”(Sal. 45,6).

Durante quase dez séculos, a imagem de Nossa Senhora permaneceu intacta. Por isso chamou-se-lhe "muro intacto”.
Desde então, entre os kievenses se espalhou a lenda, de que a que sua cidade não morrerá enquanto ela permanecer na mão de Deus na Catedral de Santa Sofia. Na verdade, quando a fé das pessoas enfraqueceu, quando esqueceram o arrependimento e se afogaram no pecado, quando os príncipes começaram a partilhar a terra e a derramar o sangue dos seus irmãos, Khan Baty chegou a Kiev como castigo de Deus. Os tártaros queimaram Kiev e profanaram a Catedral de Santa Sofia. Mas o muro, que contém a imagem milagrosa de Nossa Senhora de mãos levantadas em oração, permaneceu ileso. Assim, ela permaneceu intacta durante nove séculos - tem resistido a todas as destruições e reconstruções do templo. Por isso, essa imagem foi chamada de "muro inabalável".
A palavra “oranta” traduz-se de grego como “aquela que reza”. A Oranta é retratada em oração com os braços levantados e as palmas das mãos estendidas para o exterior. Este gesto é de oração de intercessão. Uma vez que na Roma antiga, mesmo na época pré-cristã existia o costume de no início da manhã cada matrona hospedeira (mulher, mãe de família) começar o dia com uma oração de intercessão para a sua família - congratulando-se, como Oranta, com o sol que nasce. Esta tradição foi retomada pelos cristãos romanos – só que não rezavam aos deuses pagãos mas ao Senhor Jesus Cristo, Sol da Justiça. E eles acreditavam que como toda a mãe reza pela sua família, assim também a Mãe de Deus, reza por todos os filhos de Deus.
O gesto das mãos da Oranta era muito popular na arte até ao séc. XX. Na coroa de casamento das mulheres tem estado sempre a imagem da Virgem com as mãos levantadas.
Desde os tempos antigos estabeleceu-se no mundo a tradição cristã de veneração à imagem de Nossa Senhora nos ícones, com um Cânon próprio na iconográfica. A Virgem Maria deve estar com o quíton (túnica), geralmente de cor celeste. A sua cabeça está coberta com um véu – o mofório, como sinal de que ela é casada. Muitas vezes o véu tem a cor vermelha para comemorar o sofrimento da Virgem Maria e em memória de sua descendência real. O mofório é decorado com três estrelas de ouro - uma na cabeça e duas nos ombros. Elas simbolizam que a Mãe de Deus antes do Natal, no Natal e depois do Natal permaneceu Virgem. Além disso, três estrelas são o símbolo da Santíssima Trindade. Outro importante detalhe do vestido de Maria são as bocamangas. Isto é uma peça de vestuário dos sacerdotes. No ícone isto é um símbolo do serviço da Mãe de Deus (e de toda a Igreja na sua pessoa) ao Sumo Sacerdote Jesus Cristo. Da mesma maneira que para as vestes, também existem cânones para a localização da imagem do ícone da Virgem. Estes cânones iconográficos são muitos, entre eles estão os que regulamentam a posição de símbolos importantes, repetidos ou alterados nos outros ícones. A imagem da Oranta é um de mais antigos ícones. Encontrámo-lo já no séc. II nas catacumbas romanas. A Oranta distingue-se de outros tipos de imagens de Nossa Senhora pela solenidade especial e pela majestade. Nas igrejas ortodoxas estes ícones estão colocados na parte superior do altar.
A Oranta de Kiev é retratada sem o Menino Jesus. Isto acontece raramente. Frequentemente a Oranta é retratada juntamente com Jesus. A imagem de Cristo é colocada num medalhão redondo no peito da Mãe. Nas terras ucranianas este tipo iconográfico tem o nome próprio de “Sinal”. Assim, a significação principal da imagem passou de oração de intercessão para as profecias do Antigo Testamento (“Eis que a virgem conceberá. e dará a luz um filho, e lhe chamará Emanuel” (Is. 7,14) e até Anunciação.
Entre os ícones milagrosos, encontram-se frequentemente os ícones da Virgem. Os pesquisadores dos fenómenos energéticos explicam estes factos com a força da fé das pessoas, que rezam a esse ícone. Elas acreditam que a mulher exaltada com o Espírito Santo, elevada ao céu, compreende-os melhor e não lhes vai negar a sua intercessão.
Sob a protecção da Virgem Maria estão as cidades e os estados. Uma lenda diz que Kiev não enfrentará qualquer ameaça séria enquanto debaixo da cúpula da Catedral de Santa Sofia a abençoar a Oranta – a intercessora. “A Virgem (Eva) expulsou-nos do paraíso, com a Virgem (Maria) temos a vida eterna. A mesma coisa que nos condenou honrou-nos”. (S. João Crisóstomo)
Curiosamente, a Virgem aparece nos antigos ícones ucranianos com muito mais frequência do que Jesus Cristo. Isso pode ser explicado pelo fato de que na Ucrânia desde a adopção do Cristianismo, a Mãe de Deus era especialmente respeitada.
Na Idade Média, nomeadamente na Rus de Kiev, a principal função da Virgem, que se reflecte no seu culto, foi a intercessão diante de Deus por toda a raça humana e pelo mundo terrestre como um todo. Isto reflecte-se na iconografia, onde a Virgem aparece primeiramente como Oranta - protectora e padroeira de Kiev, bem como nos cânticos em sua homenagem, onde ela adquire o nome de "Tenda de Deus e do Verbo” , de “Lugar Santíssimo” do Templo de Jerusalém, de arca dourada da Aliança, de "parede intacta do reino", de “protectora do povo". Segundo o Metropolita Ilarión, o rei Yaroslav “entregou o seu povo e a cidade á Virgem Santa para ajudar os cristãos". Assim a Virgem é concebida como o núcleo da Igreja, revelada no simbolismo do templo.
A Mãe de Deus é especialmente venerada pelos cossacos. Durante uma das batalhas no mar Negro, os navios dos cossacos foram cercados pela frota dos turcos e tártaros, centenas vezes superior. Era o dia de intercessão da Virgem, os cossacos solicitaram o apoio da Rainha do Céu e da Terra - a Mãe de Deus. De repente, a névoa caiu no mar e os cossacos conseguiram fugir. Desde essa época, os cossacos escolheram uma imagem de Nossa Senhora, a sua protectora celeste, para a sua bandeira - Protecção da Mãe de Deus e construíram sobre a Sich, uma igreja em sua homenagem. E a festa de intercessão de Maria foi anunciada o dia do exército cossaco.

Texto base
Sal. 45,6 Deus está no céu centro, ela é inabalável.
Am. 7,7 O Senhor estava de pé sobre um muro a prumo
Os elementos principais:
A imagem da Virgem de frente com as mãos levantadas ao nível dos ombros, geralmente sem o menino, no plano longitudinal.
Atrás de cinto de Maria fica o sudário – elemento da roupa das diaconisas.
Sob os pés pode estar a “orlitsa” – o tapete pequeno – símbolo de dignidade sacerdotal.
Nas mãos o cachecol símbolo da intercessão de Maria.
Os investigadores acreditam que no princípio a Oranta representava Maria no momento da sua visita ao Templo de Jerusalém, e em seguida, a Igreja terrena.
Pensamento teológico: Símbolo da Igreja da terra que ora ao Senhor - a Igreja do Céu - pela humanidade. A imagem tem uma natureza puramente eclesiológica. Como a Mãe de Deus, estando com Deus e estando constantemente em oração, é um apoio forte e ininterrupta parede da Igreja.
A Rus de Kiev recebeu o estilo, a técnica e os mesmos iconógrafos e artistas de mosaico de Constantinopla ou suas escolas de iconografia subordinadas. Mantendo a tradição da iconografia bizantina, Rus-Ucrânia, ainda assim, criou o seu estilo, a sua versão da tradição bizantina predominante. Aqui nota-se a predominância de alguma interpretação facial suave, mais leve, cores claras e sobreposição hábil de ouro sobre o fundo dos ícones, auréolas e decorações, sobretudo de Jesus e Maria.
Alímpio era o iconógrafo mais glorioso da época de Rus, um monge de Kiev-Pechersk Lavra. Ele estudou na Grécia e tornou-se então um iconógrafo independente e original. A ele se atribuiu a autoria das maiores obras da Catedral da Dormição da Virgem na Pechersk Lavra. A escola kievense chamou uma grande quantidade de outros iconógrafos anónimos, que criaram muitas obras na cidade e outros centros de Rus. Os pintores dos ícones de todo o principado de Kiev estudaram e estagiaram na capital, bem como convidaram outros artistas.
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